terça-feira, 2 de setembro de 2008


[Grécia] Três camaradas foram presos acusados de um grande caso de seqüestro

No dia 20 de agosto, quatro pessoas foram presas na Grécia sob a acusação de um seqüestro, onde uma grande quantia foi paga pelo resgate do refém. As pessoas presas são Polikarpos Georgiadis, Vasilis Palaiokostas, Vagelis Hrisohoides e uma outra pessoa na qual o resto do grupo tomou distância devido ao seu comportamento.
Já no dia 21, mais quatro pessoas foram presas por também desempenhar um papel menor no seqüestro. A pessoa que foi raptada há alguns meses atrás se refere ao presidente do Sindicato para os Proprietários da Indústria Pesada (sindicato empregador) Georgos Mylonas, que não muito tempo atrás causou um alvoroço nos trabalhadores quando disse que nas fábricas as pessoas teriam de trabalhar mais duramente e em maior quantidade de horas.
Ele foi solto após ser paga uma soma de 10 milhões de euros, arranjados por sua esposa. A mídia e a polícia alegaram que este dinheiro foi destinado à libertação da prisão do irmão de Vasilis, Nikos Palaiokostas. Fotos na imprensa burguesa mostraram a larga variedade de munições, kalashnikovs (rifles automáticos), um lançador-propelente de granadas, artifícios explosivos, coletes à prova de balas e uniformes de bombeiros que foram encontrados no momento da prisão.
Histórias da quantia de dinheiro sendo encontrada de volta mudam todos os dias. A polícia disse que uma grande parte dos talões foi marcada e em cerca de 150 lugares diferentes eles as encontraram de volta.
A história e tradição de Vagelis, Vasilis e Polikarpos neste caso, como também os tantos outros ataques contra a exploração e a escravidão das pessoas, são importantes para o contexto deste seqüestro e para a rebelião social em geral. Polikarpos e Vagelis são queridos companheiros na cena anarquista desde há muitos anos e ambos têm sido muito ativos.
Polikarpos foi mandado para a prisão antes, em 16 de abril de 2004, acusado por tentativa de provocar incêndio com artifícios explosivos contra o veículo de uma companhia de segurança privada. A polícia tentou acusá-lo por tentativa de incêndio e posse de dispositivos explosivos, mas não pode provar nada. Ele permaneceu em pré-detenção por um ano e de qualquer forma foi tido como culpado. Durante seu tempo na prisão ele chegou a conhecer Vasilis Palaiokostas. A mídia burguesa o acusou naquela época de ser um ladrão de banco também, e deste ponto de vista isto os encaixa perfeitamente para clamar hoje que Vasilis teria “escolhido Polikarpos para uma conspiração para colocar seu irmão, Nikos, para fora da prisão”. Estes dois irmãos são duas “lendas” bem conhecidas no país faz décadas.
Desde a queda do império Otomano em 1821 a Grécia passou a conhecer uma grande tradição muito popular de ladrões classistas e sociais, como sendo uma resposta à pobreza e à exploração. Estas pessoas tomariam de volta o dinheiro dos ricos, das autoridades, dos exploradores, e freqüentemente se escondiam em vilarejos, com a ajuda das pessoas; estas se recusariam a ajudar a polícia e os protegeria das autoridades.
Os rebeldes sempre tiveram fortes conexões com as pessoas e providenciaram para suas comunidades, por exemplo, apoio financeiro para educação e medicação, tendo por sua vez proteção da comunidade em relação à polícia. Nesta realidade, os dois irmãos Vasilis e Nikos, e ainda muitos outros, que cresceram em uma família muito pobre, não poderiam mais suportar suas próprias explorações e escravizações bem como as das pessoas que os circundam nesta sociedade, e assim, durante os últimos 30 anos, eles têm vivido suas vidas como rebeldes sociais.
Eles fizeram dezenas de assaltos a bancos, roubos de carros e fugas da prisão, mas nunca tiveram roupas elegantes, dirigiram carros caros ou viveram em casas luxuosas. De fato teve uma vez que eles atiraram de volta o dinheiro para o chão do banco, porque aquele pequeno montante não era a quantia que eles realmente precisavam. Tudo isto foi sempre enviado para onde era necessário e compartilhado com as pessoas que os protegeram, os esconderam e ainda não vão dizer uma palavra sequer para a polícia sobre os seus companheiros.
Durante todos esses anos eles permaneceram nos “subsolos”, enquanto eram trilhados pela polícia de tempos em tempos, quer resultando em bem-sucedidas fugas em carros roubados ou tendo que enfrentar um infeliz tempo de prisão. Sempre escapando dela, no entanto, com a amante e espetacular ajuda do outro irmão.
Por toda a década de 80 eles fizeram muitos assaltos, até Nikos terminar na prisão em 1988, mas foi solto pelo seu irmão há poucos dias mais tarde, jogando, pelo lado de fora, uma corda sobre o muro da prisão. Dois anos depois, em fevereiro de 1990 ele foi preso novamente. Um mês depois Vasilis foi infortunadamente pego com um amigo, enquanto tentava resgatar seu irmão. Esta foi, supostamente, a primeira vez em que ambos estavam na prisão ao mesmo tempo.
Em dezembro de 1990, no entanto, Nikos escapa da prisão de Korydallos em Atenas após um enorme levante no presídio; a polícia então estaria procurando por ele pelos próximos 16 anos, até que o pegou, por acidente, quando estava em uma batida de carro em 2006. Desde então ele nunca mais saiu.
Em 1991 Vasilis consegue escapar da prisão de Halkida. Em 1992 ele rouba um banco. Em 1995, juntos, eles assaltam um banco em Atenas. Em dezembro de 1995 eles estavam sendo acusados de seqüestrarem o presidente da Haitoglou, uma grande fábrica de “halvas” (comida grega). Eles, supostamente, o deixaram ir após quatro dias e também após receberem 750.000 euros de resgate. O ministro da ordem pública profere então um mandado de prisão que circulou na televisão e na rádio, além de cartazes com as fotos deles e uma recompensa de também exatamente 750.00 euros.
Em 1996, Vasilis foi rastreado pela polícia em Korfu, mas conseguiu escapar dela tomando um carro. Dois anos mais tarde a mesma situação ocorre em Yanitsa, e volta a se repetir em maio de 1999. Em 2003, Nikos faz uma fuga espetacular com um helicóptero.
Em 2006, Nikos, de bicicleta, roubou um banco em Veria e fugiu porque a massa de policiais lá presente estava completamente preocupada com a proteção do presidente que estava visitando as ruas de Veria naquele exato momento. Em setembro daquele mesmo ano ele teve o acidente de carro e foi preso novamente após muitos anos se escondendo e vivendo como um fugitivo.
A polícia descobre sobre a identidade e o paradeiro do grupo porque um quarto homem estava gastando largas somas de dinheiro em carros luxuosos em Creta. Também porque Georgos Mylonas tinha declarado à polícia que durante seu seqüestro ele tinha ouvido aviões sobrevoando por lá muito freqüentemente. Com a prisão do homem em Creta eles descobriram que tinham alugado uma casa em Souroti, uma tranqüila área perto de Tessalonica, próxima ao aeroporto. A polícia alega que com 14 policiais da força especial e 10 policiais civis (é muito possível que havia bem mais), eles cercaram a casa em Souroti. Ambos Vasilis e Polikarpos foram presos lá, onde tinham também mantido Mylonas e a artilharia.
No dia 22 de agosto de 2008, todos eles foram levados ao promotor, que deu à eles três dias para preparar a defesa, e decidirá sobre a continuidade da detenção pré-julgamento deles. Encaram nove acusações (3 crimes, 6 delitos). Após o processo eles foram arrastados por dois grandes policiais da tropa de elite para a imprensa, ávida para tirar uma foto dos mais procurados na Grécia, e orgulhosa de mostrar a todos que eles foram pegos; o pesadelo de todo o sistema que impõe a lei, o controle e a punição sobre as pessoas.
Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana
Na tarde chuvosa,Sozinho, despreocupado,Um pardal molhado Edson Kenji Lura

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